Vacina da COVID-19: os custos e os benefícios

Jul 2020

Temos sido bombardeados com notícias de que é possível ter COVID-19 com o curso de vacinação completa e de que é possível ter efeitos secundários graves da vacina. Este bombardeamento constante de possibilidades do que virá a acontecer depois de tomada a vacina pode colocar o mais ponderado dos indivíduos com dúvidas acerca da relação custo-benefício de ser vacinado.

Posso apanhar COVID-19 com a vacina tomada?

À partida os benefícios parecem óbvios: não contrair a doença COVID-19, mas a realidade é um pouco mais complexa do que isso.

As vacinas ofereçem muito boa proteção contra a COVID-19, mas, como temos visto nas notícias internacionais, existem pessoas que, ainda que vacinadas, são capazes de ser infetadas com o vírus. Essa possíbilidade é, sem dúvida, verdadeira. Mas, especialmente na linguagem da ciência, “ser possível” simplesmente implica que a probabilidade, por muito mais baixa que seja, não é 0.

Para compreender porque é que isto acontece, temos que ter em consideração o quão os nossos corpos são diferentes uns dos outros. A vacina faz a sua tarefa de tornar a nossa resposta imunitária mais rápida e eficiente (como já falei anteriormente). Mas, no final do dia, cabe às nossas defesas o combate do vírus. Dependente de vários fatores, como possíveis deficiências ao nível do nosso sistema imunitário, ou da carga viral (quantidade de vírus) à qual fomos expostos, a nossa enorme capacidade, potenciada pela vacina, de combater o vírus pode não ser suficiente para que impeça a doença a 100%. Note-se que, a probabilidade de isto acontecer é muito pequena, mas, tendo em conta que o vírus ataca milhares de pessoas todos os dias, mesmo o que é altamente improvável acaba por acontecer.

Mas o principal trunfo da vacina não é impedir a doença em si, mas impedir a doença grave e hospitalização. Aí os resultados das vacinas são ainda mais impressionantes, tomando por exemplo a vacina que eu próprio tomei (Janssen), a vacina teve uma proteção de 100% à morte por COVID-19 num estudo que envolveu variantes diferentes da doença e indivíduos de países diferentes 1. Ou seja, comparativamente com quem não foi vacinado, ninguém que tenha tomado a vacina morreu de COVID-19.

Esses baixos números tendem ainda mais a diminuir à medida que mais gente é vacinada, uma vez que a imunidade de grupo implica que o vírus perde a capacidade de circular pela população, pois a grande a maioria das pessoas estão vacinadas. Por isso, assim que é atingida a imunidade de grupo, até as pessoas que manifestariam doença após vacinação estarão completamente protegidas. Exemplo disso são o sarampo e a rubéola em Portugal, extintos por casusa da vacinação.

Contas feitas, quem toma a vacina tem muito menos probabilidade de ficar doente, os poucos que ficam doentes têm muito menos probabilidade de terem de ser admitidos em hospital e, desses, praticamente nenhum morre. Pondo de parte o sensassionalismo e medo que vêm dos noticiários da noite e olhando para os números nús e crus, as vantagens das vacinas são imensas e imediatamente aparentes.

Note-se que, para que as vacinas tenham o efeito pretendido, o indivíduo tem que ter a vacinação completa (ter todas as doses tomadas em vacinas com mais do que uma dose) e o corpo tem que ter tido tempo para formar defesas depois de administrada a vacina, geralmente após 15 dias. Muitos dos casos de infeção em vacinados advém de um curso de vacinação por completar.

Vou ter efeitos secundários graves da vacina?

Quando ponderamos se devemos ser vacinados, algo que nos pesa o outro prato da balança são sempre os efeitos secundários. Dá-se este nome ao conjunto de reações provenientes da vacina que não sejam a da geração de imunidade, todos os fármacos eficazes os têm e as vacinas não são exceção.

A esmagadora maioria das pessoas terá poucos ou nenhuns efeitos desses, uma vez que as vacinas, por serem administradas a pessoas saudáveis, têm estritos requisitos de segurança e eficácia, sendo que os resultados da investigação são disponibilizados publicamente e revistos por paineis de especialistas independentes e por agências internacionais e governamentais.

Os efeitos secundários, geralmente leves e pouco duradouros, são uma consequência da própria eficácia da vacina, uma vez que são consequência do nosso sistema imunitário a detetar a entrada da vacina no organismo e a gerar defesas para o combater, algo que é essencial para que se adquira memória imunitária contra o vírus da COVID-19. Por isso é que sintomas como dor de cabeça e dor localizada são entre os mais comuns, uma vez que são os sintomas típicos de uma infeção viral como uma gripe. Esses sintomas passam muito rapidamente porque a vacina não traz a doença em si e por isso não chegamos a ficar efetivamente doentes.

Há casos muitíssimo raros em que o sistema imunitário de certas pessoas tem uma resposta exagerada a um dos componentes da vacina. Este efeito não é específico das vacinas, tal como alguém que seja alérgico a marisco facilmente poderá comprovar. Tal como no marisco, as pessoas que tem alergias a componentes da vacina geralmente já o sabem, por indicação médica ou por uma reação adversa anterior. Para os ainda mais raros casos de ser detetada uma nova reação adversa, os centros de vacinação em Portugal estão preparados para lidar com essas situações, estando dotados de enfermeiros e fármacos prontos a atuar em situação de, por exemplo, choque anafilático ou edema da glote.

Com isto quero dizer que, se não há um historial anterior de alergia severa, as reações adversas graves não devem ser um problema que as pessoas que ponderem vacinar-se devem sequer considerar.

E os efeitos secundários a longo prazo?

Toda a gente que ouvi recear efeitos secundários a longo prazo, entenda-se, efeitos secundários que só se manifestam meses ou anos depois da vacina, são pessoas que não estão corretamente informadas acerca das especificidades destes fármacos.

Historicamente, sabe-se que os efeitos secundários das vacinas manifestam-se até 6 meses após a inoculação [2], sendo praticamente inédito qualquer efeito secundário que se manifeste depois desse tempo. Os ensaios clínicos têm duração suficiente para registar quaisquer efeitos secundários que surjam nesse período de tempo, e mesmo depois dos ensaios, os efeitos secundários continuam a ser monitorizados. Por isso, se existissem alguns efeitos secundários a longo prazo das vacinas, estes já teriam sido detetados.

Os componentes da vacina permanessem pouco tempo no nosso organismos depois da sua administração, por isso, o aparecimento de novos efeitos secundários será sempre limitado no tempo. A única memória que o nosso corpo desenvolve a partir da vacina é a memória imunitária, mas isso é responsabilidade do funcionamento do nosso próprio sistema imunitário, e não da permanência do fármaco no nosso oragnismo.

Conclusão

Todos estes factos levam a que a recomendação de praticamente todos os especialistas e autoridades de saúde sejam no sentido que todos os que têm essa possibilidade se vacinem e o mais rapidamente possível. É normal temer algo novo e desconhecido, mas o antíodo para esse receio é informação e conhecimento, algo que, no caso das vacinas, já foi solicitado ao longo dos anos, e especialmente dos últimos meses. As vacinas, como tudo na vida, têm riscos, mas os benefícios da vacinação, quando comparados aos enormes riscos associados a estar suscetível à COVID-19, que, ao contrário das vacinas, já matou milhões pelo mundo todo. Eu já tomei a minha, e escrevo estas palavras com toda a confiança, e tu, já fizeste a tua parte?


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